domingo, 3 de maio de 2009

Pesquisa diz que 47% dos idosos brasileiros têm vida sexual ativa

Doris Miranda Redação CORREIO / Fotos: Angeluci Figueredo

Ivonildes Matos cursa o sétimo semestre de fisioterapia. Um dia, entrou na sala de aula especialmente disposta a prestar atenção. Um par de olhos atentos, no entanto, já espreitava os modos desembaraçados, os comentários maduros e um certo ar juvenil que exala ao seu redor, realçado pela tatuagem floral no colo e o piercing no nariz. O colega que a observava não resistiu e disse que queria conhecê-la melhor. Bom, não deu em outra coisa se não namoro. “Acontece toda hora”,você pensa. A questão é que Ivonildes tem mais de 70, seis filhas, é bisavó de cinco e está em seu terceiro curso superior. E o rapaz, que hoje já não é mais seu namorado, tinha 19 anos. Depois dele, veio mais um colega de faculdade, de 31 anos, com quem ela ficou por dois anos.O atual é um pouquinho mais velho, com 35 anos. Com todos, garante que mantém um relacionamento normal, como o de qualquer outro casal, com sexo incluído, sim. “Não vejo porque me castrar de uma coisa tão prazerosa. Basta a mulher entrar na menopausa para as pessoas acharem que ela não precisa mais de sexo”, diz, corajosa, ressaltando que não faz nada para atrair homens mais moços.

Ivonildes não foi entrevistada mas poderia muito bem estar inserida na pesquisa que o Instituto Datafolha fez para mapear a vida dos idosos brasileiros e acabou revelando que há atividade sexual plena em 47% deles, contrariando a crença que o desejo se extingue na terceira idade (a partir dos 60anos). “Há um costume de associar amor e sexo à juventude, mas isso não acaba coma idade. As pessoas fazem sexo até o fim da vida porque o corpo continua com as mesmas necessidades. Aquestão é que as respostas sexuais vão se modificando, assim como outros reflexos. Sexo não é apenas a cópula, é toda a vida de relação com as pessoas”, afirma a psiquiatra e sexóloga Gilda Fucs.
Eternos Apaixonados. Basta passar um tempinho com Alfonso, 71, e Iraci Agazzi, 70, casados há 42 anos, para entender o que a médica quer dizer. Entre eles, há uma profusão de olhares apaixonados, toques constantes e muita cumplicidade. Juntos, compõem o retrato de um amor maduro que soube transformar o fogo da juventude numa chama perene, realçando o que já era bom, adaptando-se à nova realidade. “Hoje prezamos muito mais pela qualidade do que pela quantidade. Já conhecemos todos os pontos, os sinais um do outro, sabemos o que fazer. Quando a gente ama, tem prazer em qualquer idade porque sexo para mim é vida, uma coisa sublime”, assegura Iraci, que teve três filhos com seu amor. Com um gestual contido mas cheio de significados ocultos, o velho Agazzi observa a mulher na plenitude e demonstra aprovação. “Para que plástica se eu gosto do cheiro dela, da carne dela com a minha?
À medida que a gente vai envelhecendo vai descobrindo melhor o prazer”, diz ele, que se apaixonou pela mulher quando a viu tocar piano e ainda mantém hábitos românticos, como jantares regados a vinho ouvislumbres do pôr-do-sol a dois. Como Iraci casou virgem, a sexualidade do casal foi descoberta aos poucos e sempre à flor da pele. “O toque émuito importante para nós. Gosto de muito chamego”, explica ela.
Preconceito. Depois da popularização dos medicamentos para disfunção erétil, muitos homens mantiveram ou recuperaram a atividade sexual. Daí,74%dos entrevistados afirmarem que ainda estão com a corda toda. Com as mulheres, porém, as coisas são mai scomplicadas: passam pelo viés cruel do preconceito. Por isso, somente 24% se dizem ativas. Como elas foram educadas para serem apenas mães, criou-se uma ideia que a mulher mais madura não precisa de sexo porque não pode mais reproduzir. “A figura feminina mudou muito. A desinformação sexual ainda é uma coisa latente em todos os níveis sociais e intelectuais, mas já se sabe que a baixa de estrógeno na menopausa não interfere no desejo sexual”, explica Gilda Fucs. Boa alimentação garante o vigor a alimentação garante o vigor.
Alguns alimentos sempre tiveram relação estreita com o desempenho sexual. Muito disso é mito, mas a ciência vem provando que o que se come, de fato, pode revelar a qualidade do sexo que as pessoas praticam - sobretudo na terceira idade, quando o corpo já não temas mesmas respostas de antes. A dica é incluir na dieta alimentos ricos em vitamina B3 (niacina), que, além de melhorar o desempenho sexual, ajuda a manter a pele saudável, beneficia os sistemas digestivos e nervoso e o sistema circulatório. Então, na hora de fazer a feira, coloque no carrinho amendoim, castanha do Pará, carnes magras, leite, ovos, frutas, secas, cereais integrais, brócolis, tomate, cenoura, abacate e batata doce, que são fontes naturais de niacina. Outros nutrientes estão ligados aos hormônios sexuais, como zinco, óleos ômega 3,6 e 9, magnésio e os bioflavonóides. Ivonildes Matos: namorados bem mais novos Aids se propaga entre idosos Alfonso, 71, e Iraci Agazzi, 70, são casados há mais de 40 anos e trocaram a quantidade pela qualidade na prática sexual. Parece incrível nos dias de hoje, mas a desinformação ainda é o principal fator para os grandes índices de Aids, especialmente na faixa etária classificada como terceira idade. Os dados do Programa Conjunto das Nações Unidas sobre HIV/Aids preocupam: no Brasil, há mais de 500 mil casos notificados da doença. Desses, mais de 15 mil atingem idosos - sendo que, em 1991, havia cerca de 950 ocorrências. A desinformação tem como consequência a vida sexual ativa sem proteção. “Há muita Aids entre a população de idosos no Brasil. Eles não se cuidam porque não têm hábito de usar preservativo. Por isso, o Ministério da Saúde está lançando campanhas específicas”, confirma o geriatra Adriano Gordilho. A dificuldade de manuseio e o medo de perda de ereções também explica o desuso de preservativos.

matéria com fotos no Correio da Bahia http://correio24horas.globo.com/noticias/noticia.asp?codigo=25123&mdl=27